quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

PLANETA DC 46

PLANETA DC46

ffottmann          

                                        DC46

- PRÓLOGO
                      - Um Planeta Outrora Chamado DC46
                      - O Orbe Vaidoso
                      - A Bela Noiva Virgem
                      - Observadores
- LIVRO I
 Inquilinos de Ziak
                      - O Paraíso Perdido
                      - Campos Floridos
                       - A Viagem de Canherê

- LIVRO II
 Ziakianos     
- O Exílio
                        - Arca de Noé II
                        - Etan Emmanuel

“Qualquer semelhança com algum outro dos milhões de sistemas solares do  Universo é mera coincidência”


UM PLANETA OUTRORA CHAMADO DC46
 Era uma vez um planeta chamado DC46, situado numa certa região do universo e pertencente à um sistema solar anos-luz distante da estrêla mais próxima de CAD6,  o  Sol,   que abrigava além dele, outros sete planetas irmãos, dentro da galáxia M888, à quem pertenciam.
DC46 era entre os oito irmãos, o quarto em tamanho e massa, e ocupava a terceira órbita do sistema, girando à 42.000 km/h  de velocidade periférica em torno de seu eixo,  se deslocando numa órbita elíptica em torno de CAD6, levando consigo seus dois orbes,  Zetái o de órbita exterior e Marái o mais próxima dela, num percursso de aproximadamente 458 dias.
Ambas suas luas, fragmentos de sua massa ,  foram resultantes das violentas  colisões dos dois gigantescos asteróides errantes  que a atingiram e se aglutinaram a elas,  antes de DC46  possuir seu atual escudo invisível, e que a protege agora,  das antigas chuvas de meteoritos que deformavam sua superfície com grotescas crateras.
Na época das colisões dos asteróides, sua superfície era totalmente plana, à excessão das crateras provocadas pelos meteoritos.
A temperatura na superfície variava de -110°C à sombra das noites aos escaldantes 170°C exposta aos raios infra-vermelhos de CAD6 durante os dias.
Porém, seu núcleo ebuliscente de material incandescente e viscoso, gerou uma pressão tão intensa que rompeu sua superfície sólida e fina em muitos pontos, fazendo jorrar de suas entranhas imensa quantidade de metais ferrosos e não ferrosos, rochas derretidas pela alta temperatura e gases, cobrindo toda a superfície com uma camada de resíduos de partículas finas  de pó negro e lava.
Rochas e metais incandescentes  em estado líquido e viscoso, ao se resfriarem, foram se acumulado em altas montanhas , modelando uma nova forma na superfície.
Cadeias de montanhas também se formaram com os deslocamentos das placas tectônicas e choques entre elas.
Os gases voláteis foram aprisionados pela fôrça magnética e gravitacional  de DC46 em torno dela e até  a centenas de km de altitude, dispostas em camadas de acordo com suas respectivas densidades.
Começáva-se a formar o Escudo Invisível que iria proteger DC46 das constantes colisões de meteoritos e pequenos asteróides, atuando como um muro protetor, desintegrando os intrusos em pequenos fragmentos mais inofensivos à sua integridade  e protegendo sua superfície dos nocivos raios cósmicos .
Elementos químicos de diversas constituições atômicas,  no estado gasoso, juntaram-se formando moléculas de novos gases e líquidos.
Um desses líquidos, resultou  num imenso oceano ,  ocupando regiões de relevo mais baixo e  2/3 do total da superfície de DC46.
A temperatura já estabilizada entre - 70°C e 55°C, criou a condição para a evaporação da lâmina da superfície da massa líquida, transformando-a em nuvens de gases ,e ,  por resfriamento às altas altitudes mais frias, em  pricipitação ao solo na forma  líquida de chuva, fragmentos de gêlo ou flocos de neve.
Essa tranformação dramática ao longo de milênios foram esculpindo um novo relevo à DC46, com cadeias de montanhas, planícies, e profundos vales.
Espessas camadas de gêlo se formaram em seus polos...
A alta velocidade de rotação foram modificando sua forma esférica perfeita até então,  e seu diâmetro se alongando  precisamente entre os dois polos, como uma linha divisória do planeta entre duas metades.
A inclinação do orbe em relação ao seu eixo resultou dos choques dos dois asteróides que formaram suas duas luas e de suas explosões interiores.
DC46, possuía agora mudanças climáticas regionais distintas entre suas duas metades ao longo de períodos precisos.
A condensação da matéria gasosa pricipitada sobre o solo, ajudado por outros fenômenos, como os  ventos, foram corroendo e erodindo as rochas, produzindo uma camada de partículas menores.
O gêlo acumulado no topo das altas montanhas durante os períodos mais frios, ao derreterem-se nas épocas de estações  mais quentes, transformaram-se em caudais lamacentos, procurando caminhos em níveis menos elevados da superfície na direção ao oceano, remodelando o relevo em seu percursso à sua maneira.
Grandes quantidades de poeira misturada ao líquido dos rios caudalosos foram se acumulando ao longo dos cursos, se depositando em camadas férteis e que DC46, não via até então como essas camadas poderiam gerar benefícios à ela.
Apesar da belíssima visão do espaço ao seu redor, DC46, sentía-se entediada e até sem muita utilidade como entidade universal.
Não foi um tédio muito longo , talvez pouco mais de um  bilhão de anos...

O ORBE VAIDOSO
NX44, percorria seu longo caminho numa órbita diferenciada dos outros menos privilegiados orbes, atrelados à poderosas forças magnéticas e gravitacionais, ocupando espaços pré-determinados dentro do complexo e frágil sistema galaxial de M888.
Ele não padecia desta rígida obediência , podendo se deslocar aos extremos da lentilha, formato da M88, numa rota bem mais agradável e interessante.
Até por seu aspecto físico se diferenciava dos outros orbes,  e o envaidecia,  a beleza de sua magnífica cauda longa de gases coloridos.
Em seu longo percursso, NX44 e sua cauda colhiam partículas de diversas origens, capturando-as de outros grandes ou pequenos orbes, como um aspirador de pó.
A irregularidade e a liberdade de suas rotas, em certo momento o aproximou de um sistema solar de idade mais jovem, e ainda desconhecido dele, pois não estava naquela posição em sua última passagem nessa coordenada.
O cometa sabia que sua rota não o aproximaria do jovem sistema a ponto de causar um desequilíbrio orbital dramático , porém sabia que a fôrça gravitacional e magnética dos planetas atraíriam partículas de sua cauda, mas também nada muito preocupante a vir deformar  sua vaidosa beleza.

A BELA NOIVA VIRGEM
 DC46, embevecida com a inesperada visita celestial, não se deu conta da poderosa atração física que exerceria à longa e bela cauda do astro, e nem também das microscópicas partículas com que seria bombardeada por ele.
Partículas capturadas e oríundas de outras longínquas estrêlas, ou  planetas similares a ela.
Muito menos poderia imaginar que essas partículas, num meio climático como ela oferecia naquela época, poderiam gerar uma mudança radical em sua jornada universal.
A panspermia de partículas estranhas cobriram sua superfície e nesse meio propício, se desenvolveram,  como concebidas por alguma fôrça da  natureza.
O Plasma espargido sobre DC46, em outros poucos bilhões de anos foi se transformando...e  tranformando seu aspecto também, de adolescência à maturidade.
A VIDA  chegara à DC46, para tirá-la de sua monotonia...e na forma conhecida como Vegetal e Animal...
De patinho feio do seu sistema solar, se tranformou no exuberante orbe azul dos mares, do branco de suas nuvens e do verde de suas florestas.
DC46 acolheu  todas suas espécies dotadas de vida com igual  cuidado, proteção e amor de mãe dedicada.
A evolução das espécies se deu de maneira vertiginosamente rápida e da primeira espécie de vida animal marinha, passando por pesados dinossauros terrestres, anfíbios e aéreos, pequenos roedores, insetos e répteis, relvas e árvores , ao surgimento do ser dotado de inteligência, foi para DC46, como um piscar de olhos...à quem já possuia bilhões de anos de lento e dramático amadurecimento.
Novos aromas e sons povoaram sua superfície, desde o primeiro canto primaveril de uma ave colorida em época de acasalamento aos poderosos rugidos dos artefatos de destruição , frutos da imaginosa  Inteligência do ser inicialmente concebido para manutenção e estabilidade do paraíso genético , representado por cadeias de minúsculos filamentos coloridos de figuras geométricas microscópicas em contínuas evoluções e ajuntamentos, aperfeiçoando seus seres portadores , ajustando-os paulatinamente à uma vida cada vez mais integrada  ao habitat e convivência entre diferentes espécies.
Inicialmente, o que era uma árida e desértica  superfície se cobriu de magestosas florestas, pululando de vida e dividida com as espécies animais, numa harmonia perfeita.
Porém,  rápidamente foi se tranformando novamente, e desta vez para tristeza de DC46, que  percebia e sentia a ação “inteligente”  , destruí-la mais rápidamente  que sua capacidade de  regenerar-se...
DC46, agora “inteligentemente” chamada  de Ziak, ainda não se cansara da luta, não acreditando que esses seres que tanta alegria e planos  lhe proporcionaram  ao surgirem e evoluirem sob seus cuidados pudessem serem destinados apenas à  rápidas hospedagens em planetas , até terem meios tecnológicos para  alcançarem outros ainda não devastados ,  onde continuariam sua ação predatória ao longo de sua existência no Universo.
Ziak , assim como passou a ser chamada pelos  filhos pródigos, não deixava de se, admirar da criação mais frágil do seu ecossistema, sem armas naturais de defesas anti-predatórias das espécies diferentes, se valer apenas da inteligência para sobrepujar e se impor à todas às outras , como superior e dominante.
Em lugar de  presas inoculadoras de  substâncias tóxicas naturais que alguns répteis, utilizavam em sua faina de sobrevivência  alimentar, eles desenvolveram acessórios não incorporados à seus frágeis corpos físicos, como facas, punhais, lanças, flechas, tacapes, revólveres, pistolas, metralhadoras, canhões, mísseis e composições químicas poderosas e de destruição em massa...da sua própria espécie, algo sem precedente entre as outras do frágil ecossistema.
Viu com pesar, Marái, sua lua mais próxima,  ser bombardeada novamente, não pelos já escassos meteoritos do grande cinturão de asteróides de sua galáxia, como seria aceitável e até natural, mas sim por um poderoso artefato de fissão nuclear , e de concepção do seu “ser”  mais querido até então, e para quê?
-Água em Marái? Se perguntou Ziak pasma.
Sua menor Lua, era um Orbe sem vida, árido e senão desprovido desse elemento...não em abundante, e eles sabiam disso!
Porquê então?
Água?
O elemento que ela disponibiliza em fartura às espécies sob seus cuidados...
Bastava que a espécie pródiga,  usasse de sua dádiva recebida pela natureza, sua inteligência,  para preservar sua principal fonte de vida...e  não extingui-la do planeta!
Por mais que Ziak se esforçasse para regenerar essas fontes de vida,  à todas as espécies, seus esforços se mostravam em vão.
Sua capacidade de recuperação estava sendo infinitamente menor que a capacidade de destruição lhe imposta.
Recados de mãe zelosa e severa não faltaram...mas nunca entendidos, nunca compreendidos!
Ou, talvez mal compreendidos por supostos,   autodenominados  representantes oficiais da Natureza.
A utilização e manipulação dos elementos químicos , e orgânicos  de seu solo e sub-solo, realmente pertenciam à “inteligência”, mas como reserva  para utilizá-las numa melhor adaptação e conforto no habitat, e Ziak via muitos esforços sinceros nessa direção.
Como herdeira desse dom da natureza, cabia a essa espécie a responsabilidade da harmonia entre todas as espécies beneficiárias do Paraíso.
No início, Ziak percebia a extinção de algumas das  espécies, mas na forma de mutação e evolução à uma melhor adaptação natural ao meio ambiente, mas agora via horrorizada espécies serem extintas por não contribuirem de maneira econômicamente aceitável  à nova ordem imposta pela  espécie dominante.
Ou aos “dominantes”  deles próprios, de seu grupamento social...
Via também que em outras espécies havia diferenciação, ou pelo maior empenho laborioso, ou pelo instinto de proporcionar aos seus rebentos um lugar mais seguro e com mais fartura de alimentos...
Porém, penalizados pela beleza de suas peles, foram sendo inoxerávelmente sendo extintos  , ao  irem se tornando chapéus ou casacos dos mais  privilegiados "dominadores"  da espécie dominante.
Peles , penas, chifres, se tornando objeto de desejos e demonstrações da mais pura vaidade.
Seu segundo bem mais precioso , o fóssil orgânico de espécies extintas no início da evolução, por catástrofes naturais e ambientais,  e destinado à um futuro adiante   , foi descoberto precocemente e retirado à ferros de seu ventre,  acelerando o processo  de exterminação da própria espécie , e das outras que compartilhavam o mesmo ecossistema.
Seu Escudo Invisível, já não podendo mais filtrar com a mesma  eficiência os raios cósmicos nocivos a sobrevivência delas todas.
Merecerão uma oportunidade de se redimirem ? Ziak se perguntou.
Veremos, Ziak pensou , esperançosa e  bondosa como sempre, e ainda não desistindo dela, nem deles...
                                              
 OBSERVADORES
Como mãe zelosa de sua prole, dentro de seus domínios nada passava despercebido aos sentidos de Ziak , e , as cada vez mais constantes vindas de observadores  externos, a deixava preocupada em relação à isso.


Estaria sua espécie inteligente, colocando em risco muito mais que sua própria  existência e moradia?
Estariam esses seres mais evoluídos no  tempo , e conheciam os riscos iminentes?
Suas crianças, mal haviam ainda conseguido uma rápida investida  em Marái, sua lua mais próxima... e de onde vinham esses observadores discretos e anônimos?
Do sistema CAD6/M888, ou de outros sistemas solares e outras galáxias longínquas?
Ou talvez mesmo de uma ou mais de outras das nove dimensões existentes em seus próprios domínios e apenas três delas ainda conhecidas e exploradas pelas crianças! Conjecturou Ziak.
Mas,  caso  estivessem vindo de um tempo  futuro e habitantes da mesma  moradia, descendentes desta sua primeira prole de “inteligentes” significaria que ela obtivera sucesso em regenerar-se!
Caso contrário, estaria fadada ao retorno à aridez estéril de tempos iniciais de sua saga em tornar-se fértil e acolhedora às suas espécies desenvolvidas através da primeira panspermia à que fora submetida pelo belo astro de cauda longa.
Caso essa última hipótese fôsse configurada, quantos mais bilhões de anos de solidão e inutilidade?
Fôsse qual o caso, de uma coisa ela estava segura, de que esses observadores , preocupados com tais, e frenéticos desmandos praticados pelas suas crianças, estavam vindo com intúito de trazer novamente seus filhos pródigos à razão.
Notava também a confusão das crianças com essas aparições, sem perceberem o que estava em jogo.
A sociedade da espécie inteligente dividia-se em teorias e conspirações, pendendo sempre para o lado mais fácil de explicar o inexplicável à sua compreensão e à grande massa de dominados por uma fé de frágil consistência honesta e verdadeira.
Quiçá, a que mais viesse de encontro às suas pretensões em manterem o Poder sobre os dominados...
Sem culpa nem culpados , até pelo incípio conhecimento que possuíam de suas origens.
Anjos ou ET´s vindos dos paraísos celestiais frequentados por NK44?
Diabos  ou Demônios vindos da efervecência do núcleo super aquecido das entranhas e denominados como Inferno de Ziak?
A ela, Ziak,  não cabia o julgamento, afinal desprovida de inteligência , nada mais era que mera locadora de sua massa à fôrças mais poderosas.
A ela cabia apenas ser mantenedora do Paraíso com sua  generosa massa  e sua precisa ordenação orbital ao longos dos primórdios do Início Grandioso, deflagrado por um choque de matéria x anti-matéria que originou toda essa confusão, inclusive a ela.
E um belo corpo celestial , achacado, abusado, profanado e ainda servindo como última morada dos corpos materiais das espécies, desintegrá-los em seu generoso solo, ou ter sua atmosfera poluída pela fumaça dos mais apressados em se transformarem em cinzas...
Santa Natureza, quanta soberba
Se pudesse , tivesse a ventura , o privilégio concedido à espécie inteligente de sua prole, Ziak torceria para que os “observadores” fôssem os descendentes mais evoluídos de suas crianças e vindos do futuro, reverem os erros cometidos para nunca mais incorrerem neles.
Nem ET´S, nem Anjos!
Nem Dêmonios nem Diabos, folclóricos.
Uma espécie mais evoluída e dotada de Razão.
Simples para ela como completar uma revolução em torno do eixo em 36 horas, ou uma translação orbital em torno de CAD6 em precisos 458 dias.
Simples como prover com sua massa a existência harmoniosa das espécies aos seus cuidados.
Nem euforia, nem tristeza...
Apenas...Razão.
Aos seis bilhões de anos de idade, razão é o que ela havia aprendido a cultivar, mesmo sem ter o que sentir ou comemorar, afinal era só, como dizem, um montinho de pedra redonda, girando num espaço tão grandioso que poderia ser considerada um grão de areia numa de suas diversas praias de 8.000 km de extensão.
Agora, com ajuda externa, Ziak entendeu que valia a pena não desistir e regenerar-se, manter o Paraíso em condições de abrigar as  futuras gerações vindouras de suas variadas espécies pioneiras.
-Mas que vou dar uns bons puxões de orelhas nas crianças...ah ... se vou! Ziak pensou.       


 LIVRO I -  Inquilinos de Ziak ( DC46 )

       Numa certa região do planeta em determinado tempo
                                                 

O PARAÍSO PERDIDO



O vento entrou pelo vale entre as montanhas formando pequenas ondas nas águas calmas e plácidas da baía e crispando à superfície dos rios.
Nas margens dos rios que desciam a serra desaguando nela ,árvores jovens e centenárias tiveram seus ramos mais finos e folhas   dramaticamente agitados pela fôrça do vento.
A frondosa pitangueira  enraizada  muito próxima ao rio estreito e já combalida pela idade , correu mais um risco de vir a ser arrancada da terra arenosa, e deitada sobre as águas, mas não foi o primeiro  em sua existência, nem desta vez ainda.
Grande parte de seus frutos já maduros se desprenderam caindo sobre a relva no entorno do tronco , menos um que apanhado por uma lufada de vento em seu desprendimento, foi projetado às águas do revolto rio,  o que certamente o impediria de dar continuidade ao ciclo natural de germinação.
Seus irmãos ou seriam enterrados na úmida e fértil camada de solo , ou transportadas à outros lugares mais distantes à bordo, de ventres de pequenos animais ou aves, com mais chances de virem a se tornarem belas árvores e produzirem seus próprios frutos.
O destino de Pitanguinha não parecia ser esse, pois debaixo d´água suas chances de germinar seriam mínimas.

Guará foi surpreendido pelo vento durante sua expedição rio acima, como costumava fazer sózinho, apesar de ser uma espécie de hábitos coletivos e de formarem bandos em suas excursões.
Sentiu-se mais uma vez empolgado pela fôrça do vento que o impulsionava pela popa e em alta velocidade rumo à sua casa, a pequena ilhota  na entrada da baía.
A sensação prazerosa de ultrapassar limites de velocidade sem esfôrço, sempre o deixavam exultante bastando planar com suas asas ,  controlar o rumo e a altitude, o que lhe proporcionava outro prazer, o de voar perigosamente próximo  à superfície da  água, sentir os respingos delas em suas penas.
Essa proximidade da superfície do rio, permitiu notar ainda flutuando uma pequena criatura de cor avermelhada, e que  confundiu com um sarará, o pequeno caranguejo vermelho que pigmentava as penas escarlates de sua espécie ,e, ser seu alimento predileto.
-Pura sorte! Pensou Guará já a poucos metros da presa que começava a afundar na água rapidamente.

Robalão, morador na margem oriental da mesma ilhota de Guará percebeu o leve ruído de algo caindo na  água,  vermelho como seu também alimento predileto, o sarará.
Com um movimento eficiente da nadadeira caudal, ganhou velocidade e corrigiu seu rumo em direção à inesperada presa com suas barbatanas dorsais.
A poucos centímetros  do petisco foi surpreendido pelo bico preto e curvo que,  com um movimento de extrema habilidade o privou de sua refeição.
A frustração de Robalão só não foi maior ao se dar conta do cardume de pequenas manjubas ao alcance de sua enorme bôca.

Guará só percebeu os enormes olhos negros e a bocarra aberta do Robalão à mesma distância do alvo, e mais uma vez o vento veio em seu favor permitindo maior velocidade que à do concorrente que nadava contra a corrente da maré vazante, e com isso, capturando a presa num gracioso movimento do bico longo mergulhado  poucos centímetros dentro da água.
Arremeteu, exultante com a façanha ganhando altitude, rumo ao seu destino, a pequena ilhota onde ele e sua companheira haviam construído o ninho de gravetos e lama, numa árvore de poucas folhas.

Sua espécie não era de boa formação arquitetônica e seus ninhos , precáriamente construídos nas forquilhas eram sujeitos a se desmantelarem pela ação de ventos muito fortes.
Apesar da gloriosa e vitoriosa disputa à presa, Guará estava preocupado com a integridade do ninho, onde sua companheira chocava seus primeiros dois ovos, após a união primaveril.
Decidiu voar direto para casa, se abstendo de outro prazer, o de sobrevoar o pequeno morrete na margem ocidental.
Satisfeito, se tranquilizou ao chegar e constatar que seu ninho estava incólume e sua bela companheira dormitava protegendo os ovos com o calor de seu corpo.
Assumiu  o posto e ela foi a caça de sararás, retornando somente no final da tarde , ao pôr do sol e retomando suas funções no ninho.
Guará, preguiçosamente se empoleirou numa forquilha próxima e esvaziou suas entranhas ,não sem antes notar Robalão retornando ao seu esconderijo entre duas pedras submersas à margem da ilhota.

Pitanguinha, agora despido de sua vestimenta vermelha   foi depositado numa camada de adubo orgânico extremamente fértil e propício a desempenhar seu papel da natureza.

Duas  fases das luas se passaram antes de pequenos e afiados bicos romperem as cascas dos ovos.
Guará e Ibis Rubra,  sua companheira, ficaram horrorizados ao verem o que geraram.
Dois rebentos de penugens cinzas, quase negras, arrepiadas, e horríveis de tão feios.
Vaidosos com eram de suas belíssimas penas vermelhas, de tons  escarlates, não disfarçaram a decepção, mas enfim, o que fazer se os ovos eram deles!
Os piados agudos dos filhotes não deixaram a menor dúvida de que já nasceram morrendo de fome.
A atividade de caça aos sararás aumentou drásticamente pois agora  tinham mais dois biquinhos pra alimentarem.
Sabiam de suas responsabilidades e da faina diária em conseguir o alimento, protegê-los dos predadores e os aquecerem, até que suas penugens se transformassem em penas, aprendessem a voar, começarem a terem suas penas pigmentadas pelo caroteno dos caranguejinhos vermelhos e passarem a tomar conta de seus próprios bicos insaciáveis.

Monogâmica, característica de  sua espécie, Ibis Rubra e Guará conheceram a melhor estação de suas vidas naquele paraíso harmônico , seguro e  de farta alimentação.
Seus filhotes já se agrupando à outros bandos de jovens pássaros de sua espécie da mesma geração, só retornavam à ilhota ao pôr do sol, após as expedições de explorações do território.
De mesma geração, eram os colhereiros rosas, as garças, os biguás, os papagaios, gaivotas e outras muitas espécies de aves que dividiam o paraíso com os jovens guarás.

Robalão, a tudo assistia de seu esconderijo e que de onde saía apenas para caçar sararás e manjubas necessários à sua manutenção fisiológica.
Não entendia aquele tipo de relação conjugal dos guarás.
Sua função como reprodutor era fecundar os ovos das fêmeas de sua espécie espargindo sobre eles seu sêmem,  sem conhecer o contato físico com as mães de seus produtos gerados.
Nem as fêmeas chegariam a reconhecerem seus próprios filhotes após nascerem.
Na época Robalão já contava com muitas gerações de descendentes e sua vida se esvaía de maneira natural, porém sem perder sua agilidade e habilidade de caça predatória.
Sem nenhuma animosidade, disputava os sararás às margens da Ilhota com o casal de Guarás , seus filhotes de pernas longas e bicos curvos também longos e muitos outras espécies de aves atraídas pela fartura dos sararás  nutritivos.
Naquele ambiente, todos os ocupantes conheciam seus predadores e sabiam como se protegerem ,e, eles mesmo também possuíam os seus e tinham suas técnicas de proteção.
Porém nenhuma das espécies, poderia se proteger de  um predador  desconhecido e  jamais visto por eles, daí não terem o menor conhecimento de como agirem em defesa.

Eram bem diferentes deles.
Não possuíam penas nem voavam.
Só alguns pêlos na cabeça e entre as patas, mas se apoiavam apenas nas trazeiras.
Não tinham cauda , chifres, ou presas salientes.
Não viviam debaixo d´água nem nas árvores, e seus sons eram grotescos, sem a harmonia dos piados das aves, e dos bichos rasteiros de pêlos  que conheciam.
Chegaram à ilhota montados em troncos de árvores, utilizando as patas dianteiras para se locomoverem sobre a água.
Robalão, protegido entre suas duas pedras observou a chegada deles e curioso ficou, como ficou  Guará com essa nova espécie desconhecida até então .

De seu esconderijo, Robalão notou o desespero de Guará ao ver os estranhos animais arremessarem hastes pontiagudas em Ibis Rubra, que plácidamente aquecia os três ovos de sua segunda postura sem dar importância aos intrusos e nem conta  do iminente perigo.
Guará não teve tempo de protegê-la e tombou perfurado por outra haste antes de ver os novos predadores saquearem o ninho.

Robalão só percebeu a haste vinda em sua direção, tarde demais para escapar.

Pitanguinha, com seus apenas dois palmos de altura, e promissora futura árvore, sucumbiu ao peso da pata de outro predador que nem o viu entre a relva alta.

Depois,  apenas o silêncio na Ilhota outrora alegre com os cantos do casal de guarás nas primaveras.

Desfez-se a harmonia e o vazio tomou conta do paraíso ferido.




 CAMPOS FLORIDOS


Canherê acordou cedo naquela manhã de inverno, pois tinha planos de caçar perdizes nos campos ainda brancos pela geada da madrugada.
Apesar do intenso frio, o dia amanheceu bonito, sem nuvens e o sol começando a aquecer a terra.
Seu fiel companheiro, o Guará vermelho, o lôbo  que criou desde filhote já o esperava excitado como esperando pela aventura.
Canherê separou um de seus arcos leves e flechas de diâmetro fino, os mais adequados a esse tipo de caçada.
Flechas finas, produziam menos estrago nas aves, além de
possuírem mais precisão de trajeto.
Aprendeu a arte com seu pai, Pata de Anta, cacique de sua tribo.
Filho único, natural herdeiro e sucessor do cacique, Canherê, aos 17 anos, já era tido como um dos mais hábeis caçadores da tribo e também um valente guerreiro nos campos de batalha contra a tribo vizinha .
Possuía grande habilidade e liderança entre seus jovens amigos, sem demonstrar arrogância e soberba pela condição de futuro cacique, males de que era desprovido.
Guará Vermelho, um lôbo de porte grande, pelagem farta, astúcia e faro privilegiado, se revelou extraordinário seguidor de rastros das perdizes do campo, e desenvolveu uma interação com seu dono digna de admiração.
Faziam uma dupla perfeita.
Ele seguia a presa até  tê-la acuada e prestes a levantar vôo na tentativa de escapar da perseguição implacável que o lôbo impunha.
Guará sabia o momento de aliviar a pressão até seu companheiro se aproximar o suficiente para um bom e eficiente disparo da flecha.
Elegantemente, Guará Vermelho se posicionava totalmente imóvel, cabeça em linha com a cauda numa horizontal e levantava sutilmente a pata direita, sinalizando à Canherê que mantinha a presa sob controle.

A um comando em voz baixa de Canherê, avançava sobre a perdiz, fazendo com que ela não tivesse outra alternativa a não ser , se alçar em vôo na tentativa de escapar das presas de seu perseguidor.
A perdiz avaliava a direção do vento e o seguia para conseguir mais velocidade de escape.
Era nesse momento que Canherê exercia sua maestria e refinada pontaria, pois sabia  qual a  direção  que a perdiz iria tomar ao decolar e raramente decepcionava Guará , perdendo algum disparo.

Tinham um bom acerto, os dois caçadores e amigos, sendo que a primeira perdiz abatida pertencia a Guará que ali mesmo fazia seu merecido desjejum.
Após se banquetear sem muita pressa, Guará sacudia vigorosamente a cabeça para se livrar de algumas penas na bôca, e a caçada se dava por iniciada de fato.

Canherê amarrava as perdizes abatidas pelas pernas com cipó fino , ia montando feixes e distribuindo por igual entre seus dois ombros largos.

Esta técnica de caçada tinha um cunho esportivo , pois nem Guará atacava a presa no chão nem Canherê a flechava antes de alçar vôo, com isso oferecendo alguma chance a ela de escapar, até porquê não era infalível nos disparos e sua porcentagem de acertos não era superior a 70% dos disparos.
Num bom dia de sorte, não voltavam com menos de trinta aves, o que rendia um bom banquete coletivo na aldeia, a noite.
Essas caçadas de Canherê não eram motivadas apenas pelo prazer do esporte e suprimento de alimentos.

Sempre tomava a direção do sol nascente e por uma razão que nem tinha certeza do porquê.
Talvez pelas lendas ouvidas do xamâ, de que outrora seu povo havia conhecido o rio sem fim naquela direção.
Poucos na tribo se davam à escutar os delírios do velho feiticeiro, nem mesmo seu pai, o cacique.

-Tão largo que não se enxerga a outra margem! Dizia a lenda contada pelos xamãs de várias gerações.

-Mais largo que o rio Tibagi, Xamã?

Tibagi era o rio mais largo da região que Canherê conhecia, situado a dois dias de caminhada da aldeia em direção ao sol nascente.
Percurrso que Canherê já havia feito diversas vezes em seu ensaio à grande aventura na companhia de Pena Branca, seu melhor amigo e sempre levando seu outro companheiro, o Guará Vermelho.

Como justificativa ao pai dizia ser lá o mais farto campo de caça à perdizes, e confirmava isso com o que trazia com os ombros curvados pelo peso da quantidade de aves abatidas, fazendo Pena Branca padecer da mesma mentira em seus ombros.

-Consegue ver a outra margem do rio, menino? Xamã perguntou sorridente.

-Claro que sim...

-Então comparar esse rio com o Grande Rio onde o sol nasce, é o mesmo que se comparar uma formiga à uma anta.

Essas palavras ditas com tanto entusiamo e certeza, faziam Canherê  acreditar na veracidade da lenda e a sonhar em seguir os passos de seus ancestrais em direção ao sol nascente até encontrar o Grande Rio.

Muitas das duas luas ainda se passariam até se sentir preparado e inevitavelmente impelido a tal aventura.
Xamã previu seu destino e sem ninguém da aldeia ficar sabendo, iniciou a preparação espiritual do jovem guerreiro.
Conhecendo a índole do rapaz, sabia que seria uma viagem sem volta, e que isso geraria uma imensa decepção e tristeza ao cacique, que tinha planos bem diferentes para o filho.
                                            

                                                      

A  VIAGEM  DE  CANHERÊ

Canherê e sua comitiva de exploradores partiu da aldeia numa manhã do início da primavera em direção ao sol nascente, acompanhado de Pena Branca, Guara, Olhos de Estrêla, sua agora esposa,  sua cunhada, Lua Pálida, nome em homenagem à mais próxima de Ziak,  e mais oito jovens guerreiros dispostos e entusiasmados a tal aventura.

Dos campos e capões de mato onde se destacavam os pinheiros até  o pé das montanhas, pouca coisa se diferenciava da região da aldeia, mas ao iniciarem a grande descida em direção às águas, a mudança foi radical, pinheiros dando lugar à frondosas árvores, campos à relvas mais altas , vegetação de tonalidades verdes diferentes e formando um abrigo ao sol no solo úmido.
O calor mais intenso, e o ar bem úmido, tornando suas peles umedecidas de transpiração.
Os mosquitos zumbidores e que produziam coceiras na pele era conhecida deles, mas não em tanta quantidade como haviam naquela mata fechada.
Pássaros e animais numa diversidade jamais imaginada por Canherê.
Algumas frutíferas eram também conhecidas deles, mas aquelas verdes, amarelas quando maduras, eram bem estranhas.
Sob a casca fina e relativamente mole, uma polpa esbranquiçada e com odor enjoativo.
Aprenderam rapidamente que eram bem nutritivas e não tóxicas com os macacos,  que dispuvam os enormes cachos das árvores baixas de fôlhas enormes , de tamanho jamais vista por eles na sua região de origem.

Uma palmeira já conhecida deles que produzia no topo do caule uma suculenta fibra branca, em abundância na floresta tropical.

Com a fruta e o palmito, variaram o cardápio constitúido por pinhão, farinha de mandioca, peixes e carnes de caça sêcos.

Muitas frutas cítricas foram encontradas , mais dôces que as da sua região, em especial a tangerina.

O mamão, também conhecido por eles, com muito mais fartura por todo o trajeto em direção à planície avistada lá de cima , por onde chegaram ao alto  das montanhas.
Numa das pequenas brechas da floresta, viram boquiabertos e extasiados  e muito abaixo do nivel onde se encontravam , a imensa extensão do Grande Rio...

-Tão largo que não se vê a outra margem! Canherê lembrou das palavras do Xamã.

As condições de caminhada melhoraram ao encontrarem um pequeno rio com leito de pedras, descendo montanha abaixo e por uma de suas margens seguiram.
De pouca profundidade e águas límpidas podiam verem os cardumes dos lambarís, saicangas e bagres conhecidos deles.
E com eles reforçaram seu estoque de alimentos frescos, mas capturados  apenas para o consumo diário pela abundância desse pequenos peixes e com a facilidade de apanhá-los.
Lamentaram não verem os soberbos dourados, os imensos pintados e surubins que entre outras muitas espécies  de peixes, povoavam o rio Tibagi.

A medida que desciam a serra, o rio ia se alargando e ganhando mais profundidade, mas ainda podendo ser vadeado sem dificuldades, porém sómente até alcançarem a planície, onde foi ganhando mais profundidade e mais opacidade.

Ali viram uma espécie de peixe diferente do que conheciam, alguns alcançando os tamanhos dos  dourados do Tibagi e com escamas como eles, só que não amareladas, mas bem prateadas.

Fisgados com suas lanças finas , se mostraram  saborosos quando assados nas pedras sobre os brazeiros.

O clima alí quente como o da selva, porém mais sêco e confortável, permitiu o avanço mais rápido da comitiva, dia a dia mais próxima  do destino final, o Grande Rio, um dia visitado pelos seus ancestrais.

Foram tomados de certa decepção ao chegarem ao lugar onde o “seu” rio de outroras pedras no leito, encontrou-se com uma massa de água imensurálvemente mais larga, porém podendo-se avistar as margens.

Teria o Xamã se enganado ao transmitir a lenda de tantas outras gerações?

Retornaram ao pequeno rio até um lugar que haviam visto,  um local adequado à um acampamento mais confortável, numa área de relva baixa e onde havia uma frondosa Pitangueira carregada com seus sabororos frutos avermelhados.

Montaram ali sua tenda coletiva em tamanho suficiente para abrigar o grupo todo e ao fim da tarefa, com tudo já organizado, Olhos de Estrêlas sentou-se a margem do rio, para apreciar a nova paisagem, sentir os novos  odores e escutar  ruídos.
E tentar descobrir o porquê do mesmo rio ter águas potáveis acima se tornar naquele ponto, insalubre e...salgado, não se prestando a ser ingerido, mas que produzia um sabor mais agradável aos alimentos nele cozidos.

Para solucionar esse problema de sobrevivência, um grupo de guerreiros era destacado a subir o rio até ele se tornar potável novamente e ser trazido em sacos de couro curtido de anta, como faziam para o transporte em sua aldeia de origem.
Uma tarefa árdua, mas necessária  que consumia um dia todo entre a ida e volta, para abastecimento do aldeamento, com o precioso líquido.

-Vejam...nosso rio está voltando para o lugar de onde viemos! Olhos de Estrêla gritou, seus olhos curiosos e aguçados ao constatar a irregularidade,   perplexa.

-Não seja tola Estrêla, rios seguem sempre o mesmo curso! Canherê falou divertido com a confusão da esposa.

-Não esse Canherê! Veja só aquela cabaça indo em direção contrária!

Mais perplexos ficaram ainda ao notarem que o ciclo reverso de curso ocorria quatro vezes ao dia em perídos constantes, pelo menos naquela primeira semana de observação.

Mais estranho ainda era o fato do rio se alargar e novamente baixar de nível com as mudanças de cursos.

Mais tarde, semanas depois iriam tomarem conhecimento do fluxo e refluxo das marés.

Guará Vermelho, desde a grande descida da montanha andava excitadíssimo farejando caças e descobrindo porcos do mato, veados, capivaras, tatús, onças e até um bicho totalmente desconhecido deles, parecido com um lagarto, porém muito maior e de barriga amarela e enormes bocarras alongadas e repletas de dentes afiados.

Abateram um desses e acharam a cauda a única parte do animal, mais saborosa e digestiva.

A cada dia na nova aldeia, um novo deslumbramento, principalmente com as aves da região.

Algumas cor de rosa, outras brancas, e o mais lindo que já viram, um pássaro de tamanho de um pato, de pernas longas, bicos longos e curvos e com penas...vermelhas como a cor do Sol em certas ocasiões.

Estes vinham em bandos explorando o rio,  e eles  perceberam que vinham  à procura daqueles pequenos caranguejos vermelhos.

O peixe de escamas, o chamaram de Peva e alguns mais alongados , da mesma espécie, como Flechas.

A ave vermelha por Guará , por lembrarem a cor da pelagem do Lôbo Vermelho que os acampanhou  na jornada e que perceberem não habitarem aquela região.

O imenso rio largo, onde o pequeno se encontrava à ele, o batizaram como o rio dos “ Muitos Guarás “ e no seu idioma...Guaratuba.

Muitas surpresas ainda a região iria lhes reservar.

A primeira e maior, quando construíram sua primeira tosca canoa de uma tora de árvore abatida e durante uma das incurssões pelo Guaratuba e suas ilhas de capim...

Dois animais da espécie deles, porém de estaturas bem menores , mais franzinos e totalmente nús , à uma das margens , e da variedade macho pelo que observaram.

E que se mostraram tão atônitos quanto eles pelo inusitado encontro.

Desapareceram de suas vistas rapidamente entre as baixas árvores e altas relvas da margem.

Foram alguns dias de observações mútuas até o primeiro contato entre esses dois povos...



                  
LIVRO II - ZIAKIANOS

O EXÍLIO

Dois séculos haviam se passado desde sua partida ao Exílio forçado, abandonando Ziak e seu povo à própria sorte.

O Juízo Final havia sido  deflagrado por poderosas armas  nucleares detonadas numa guerra fraticida,e sabidamente por antecedência, sem vencedores.

Todos os envolvidos no conflito irracional, perdedores e conduzindo  em seu avassalador caminho , à extinção,   todas as espécies vivas do planeta.

Na época , o planeta estava superpovoado e semi-destruído.

De um lado, representando  a minoria , a elite civilizada, adiantada científica e técnicamente séculos à frente da grande massa errante e desesperada.

O solo do planeta, outrora fértil, agora semi-árido e os escassos grãos passaram a valerem mais que ouro, prata ou pedras preciosas.

Grandes rios caudalosos, agora com seus leitos em torrões de lama sêca.

A dessalizinação das águas dos mares, comprometidas por escassa geração de energia elétrica, de origens hidráulicas, combustíveis fósseis, ou renováveis necessários para funcionamento dos mais elementares equipamentos, como evaporadores, condensadores e outros.

Usinas atômicas,  parcialmente ou totalmente desativadas pela escassês de urânio, plutônio enriquecido e de outros próprios minérios necessários...

A energia eólica gerada pelos ventos, mal dava para sustentar as fábricas de mísseis, ovigas atômicas, aviões de bombardeio, aviões de caça, submarinos nucleares e proporcionar  refrigeração ou calefação, destinada ao conforto da elite.

A energia solar, cobria com seus imensos painéis de captação dos raios infravermelhos, grande parte do planeta nos recéns campos...áridos.

O pouco alimento e água potável, destinados à casta científica privilegiada.

A massa populacional, retornando à antropofagia...e por falta de alimentos clamava por líderes justiceiros.

O ambiente favorável para oferecer orportunidade e surgimentos de “salvadores” , estava criado, e eles surgiram...

Engenheiros e cientístas apressaram seus projetos da nave espacial , irônicamente batizada como  “  Arca de Nóe...II “


ARCA DE NOÉ II

Dada a exiguidade de tempo disponível, os trabalhos foram acelerados e paralelamente à construção da naves, a seleção e  treinamento aos tripulantes escolhidos para preservação do Bioma Humano.

Dias antes do primeiro Botão Vermelho ser premido, a nave aguardava seus ocupantes, estacionada na
Estação Orbital LFVII , equipada e suprida de alimentos desidratados e concentrados para nada menos que um século e suficientes para a sobrevivência dos 100 passageiros exilados do planeta natal.

Soluções engenhosas para suprimento de água foram criadas para reabastecimentos estratégicos em outros planetas dotados de tal elemento, como robôs sondas-tanques autocontroladas da nave-mãe.

Um mapa com as coordenadas de possíveis planetas dos  sistemas solares mais próximos, dotados de água, em qualquer dos três  estados, onde poderia  ser colhida.

Correções moleculares, préviamente  mapeadas e de fácil processamento no laboratório químico-biológico da nave.

Água e oxigênio criados através de manipulações moleculares.

O reator nuclear, gerador de energia elétrica e aos propulsores da nave, foram concebidos em forma compacta e eficiente.

Baterias de armazenamento de energia de lítio-íon,  dimensionados de maneira também eficientes, distribuidos internamente às paredes  e  por toda a fuzelagem da nave , formando   algo como um escudo de segurança , em caso de colisões com rochas e asteróides errantes, não previstos nos cursos pré-programados da Arca de Noé II.

Um sistema de circuito fechado de liquido refrigerante dos bastões do reator e a da evaporação necessária a alimentação das turbinas, recuperadas por condensação, e sem perdas.


Arca de Noé II , na forma esférica dos orbes, não  poderia ser considerada uma singela nave espacial , ou mesmo  uma monumental estação orbital.

Tratáva-se do primeiro Planeta artificial criado pela inteligência humana , de tamanho reduzido, mas perfeito. . .

. . .enquanto durasse!


ETAN EMMANUEL

Etan , engenheiro, cientista, e de formação em várias áreas, foi um dos selecionados a constituirem a tripulação de outros 80 jovens cientistas de ambos os sexos, várias especialidades  e 20 crianças de alto QI em idades entre 6 e 13 anos, também de ambos os sexos em partes iguais.





 - CONTINUA NO PRÓXIMO  EPISÓDIO -

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